(Adriana Avellar)
- Senhores passageiros, desculpem-me por interromper o silêncio de tão agradável viagem.
A mulher, a bordo de um terno Armani, não se sabe se original, se posiciona no corredor de frente para passageiros.
- Eu sou uma ex-proprietária de boutique multimarcas, fechada compulsoriamente por ter sido injustamente acusada de sonegação fiscal.
Fala enquanto encaixa as peças de um carrinho desmontável.
- Eu poderia estar cometendo algum crime de colarinho branco ou lavando dinheiro em campanhas eleitorais, mas a responsabilidade social fala mais alto.
Certifica-se de que conseguiu atenção da platéia.
- Pensando no bem estar de pessoas como vocês que aliam preço e qualidade, trago uma promoção imperdível.
Estica e puxa um sutiã de renda vermelho, que retira do meio de lingeries que enchem o carrinho.
- Essas lindas lingeries, tipo importação, se é que me entendem, na Free-shop de Guarulhos ou de qualquer outro aeroporto internacional não sairia por menos de R$ 800 cada peça.
Agora, ela passa pelo corredor, largando calcinhas no colo dos passageiros.
- Comigo, cada peça sai a apenas R$ 250 e o cliente ainda tem o direito a escolher uma peça extra. É uma oferta inacreditável para deixar a mulher linda.
Uma passageira se manifesta.
- Interessante esse conjunto.
- Devorê de seda, anti-alérgica e sensual.
- Aceita cheque-pré?
- Divido em três vezes.
- Ok, vou levar.
- Em cima de hora!
Voz na caixa de som:
“Senhores passageiros, estamos sobrevoando o aeroporto Santos Dumont. Por favor, permaneçam em seus lugares e apertem os cintos de segurança. O comandante e a tripulação agradecem a preferência nesta Ponte Aérea”.
FIM.
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